Todos nós já conhecemos muito bem o conjunto de sensações irritantes que ocorre quando estamos gripados, afinal, o nariz vira uma torneira e os espirros nunca param. Compreensivelmente, quando gripado, você não conseguirá sentir o cheiro das coisas devido a todo o muco presente em seu nariz, mas por que será que não sentimos o gosto das comidas quando estamos gripados?
Bem, a resposta a essa pergunta tem tudo a ver com o fato de que os nossos sentidos de olfato e paladar estão intimamente interligados. No entanto, para entender isso da melhor forma, precisamos compreender primeiramente como sentimos o sabor de qualquer coisa.
Compreendendo a ciência por trás do paladar
Nosso sentido do paladar é derivado da interação de estímulos (como comida) com os receptores sensoriais localizados em nossa boca e garganta. Na boca, a língua e o palato (céu da boca) são os responsáveis pela degustação de boa parte daquela deliciosa pizza de calabresa que você pediu no delivery, por exemplo.
Se você observar sua língua de perto, verá que ela não é lisa, mas áspera e acidentada. Essas minúsculas protuberâncias em sua língua são chamadas de papilas, que é onde residem suas papilas gustativas. Nossas papilas gustativas podem conter muitas células receptoras, o que por si só já ajuda a explicar a complexidade envolvida na degustação dos alimentos.
Quando você coloca qualquer comida na língua, as moléculas do alimento se ligam e estimulam os receptores gustativos. Existem diferentes receptores para diferentes tipos de sabores que associamos aos cinco sabores comuns: doce, azedo, amargo, salgado e umami (embora haja pesquisas recentes que foram capazes de identificar receptores de sabor que também detectam gordura).
Os receptores que detectam a doçura, por exemplo, serão ativados quando a glicose ou algum outro carboidrato semelhante, como a frutose ou a sacarose, se liga a ele. Os receptores que detectam salinidade respondem aos íons de sódio e cloreto. Dessa forma, os milhões de receptores sensoriais na boca criam um perfil de sabor bastante variado.
No fim das contas, estes receptores gustativos se conectam a neurônios que transportam o sabor de nossa hipotética pizza de calabresa para o cérebro por meio de uma rede de nervos cranianos. Eventualmente, essa informação chega ao córtex gustativo no lobo frontal do cérebro, que finalmente decifra que o que você comeu foi uma pizza de calabresa.
Como o cheiro afeta o sabor dos alimentos
É importante deixar claro que tudo o que aprendemos até aqui é responsável somente pelo gosto da comida, não pelo seu sabor. O que coloquialmente consideramos “sabor” é, na verdade, somente o “gosto” da comida. Durante um resfriado, é a percepção do sabor que fica comprometida, muito por conta de uma conexão que é conhecida como passagem retronasal.
Para entender isso melhor, considere novamente nossa pizza de calabresa. Antes de dar uma mordida, o cheiro familiar de massa, queijo e linguiça faz vibrar os receptores olfativos no nariz. Mesmo enquanto você mastiga a pizza, as moléculas sobem pela cavidade nasal, estimulando-as ainda mais, o que é chamado de olfato retronasal.
Na prática, o que acontece é que as informações dos receptores olfatórios do nariz chegam aos lobos olfativos do cérebro. Assim, a textura e a temperatura da pizza, a chamada “sensação na boca” também são registradas. Em outras palavras, podemos dizer que a percepção do sabor vai além do paladar.
No fim das contas, todas essas informações são integradas em conjunto para conferir o “sabor” da pizza. É por isso que um suco geladinho tem um gosto fantástico, mas no momento em que fica quente, ele simplesmente não proporciona o mesmo prazer. Curiosamente, essa integração ocorre em uma parte do cérebro situada logo acima da órbita do olho, o córtex orbitofrontal.
Então, por que não sentimos o gosto das comidas quando estamos gripados?
Durante um resfriado, o excesso de muco bloqueia a passagem para a cavidade nasal, impedindo que as moléculas de odor interajam com os receptores olfatórios no nariz. Sem o olfato, o perfil de sabor dos alimentos fica incompleto. Na prática, é por isso que não sentimos o gosto “real” das comidas quando estamos gripados
Além disso, uma gripe forte pode provocar a perda total do olfato (medicamente chamada de anosmia) ou uma perda parcial deste sentido, dando origem a uma condição conhecida como hiposmia. Na maioria dos casos, pode simplesmente demorar um pouco para o olfato voltar à ativa após um resfriado ou qualquer infecção viral no trato respiratório superior, uma condição chamada “disfunção olfatória pós-viral”. Em casos raros, a perda do olfato pode ser permanente.
É importante deixar claro que certos medicamentos tomados durante os resfriados também podem causar perda de olfato. Em 2009, a FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, alertou contra o uso de produtos de zinco aplicados no nariz, pois descobriu-se que eles induzem a perda do olfato.
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De certo modo, é interessante pensarmos que raramente consideramos a importância do olfato em nossa vida cotidiana, embora ele possa fazer até mesmo a nossa comida ganhar vida e fornecer algumas das experiências sensoriais mais simples (e mais facilmente perdidas).
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