O bico de uma ave é uma ferramenta verdadeiramente fascinante. Seja rasgando carne, quebrando nozes ou sorvendo delicadamente o néctar das flores, os bicos dos pássaros modernos conseguem fazer um trabalho incrível mesmo sem contar com a presença de dentes. Mas, por falar nisso, você já se perguntou por que as aves não têm dentes?
Ao longo deste artigo, você vai descobrir que os primeiros pássaros costumavam ter dentes, mas uma mutação evolutiva acabou desativando os genes envolvidos no desenvolvimento dentário dessas criaturas.
Os pássaros nem sempre foram desdentados?
Pouca gente parece saber, mas o fato é que os pássaros modernos foram evolutivamente ligados aos dinossauros terópodes, uma classe de dinossauros famintos e perigosos que tinham dentes bastante pontiagudos. No entanto, de alguma forma, o T-Rex e o Velociraptor gradualmente evoluíram para pombos e patos.
O último ancestral comum de pássaros e dinossauros a ter uma dentição completa foi o Archaeopteryx lithographica, que viveu há cerca de 150 milhões de anos. No entanto, os registros fósseis de aves evolutivamente precoces, como o Ichthyornis dispar, que existiu no final do período Cretáceo (93-65 milhões de anos atrás), ainda mostram a presença de dentes.
Na prática, o Ichthyornis dispar representa um “estágio intermediário”, provando que o desenvolvimento do bico da espécie ocorreu justamente na mesma época da perda dos dentes. Em outras palavras, isso indica que os pássaros perderam os dentes há cerca de 100 milhões de anos, mas o “porquê” e o “como” permaneceram um total mistério até recentemente.
Como as aves perderam os dentes?
Uma equipe de pesquisa liderada por biólogos da Universidade da Califórnia e da Montclair State University descobriu que 48 espécies de pássaros compartilhavam mutações que inativavam genes relacionados ao esmalte e à dentina. Basicamente, o esmalte é o tecido duro que cobre os dentes, enquanto a dentina é o material calcificado por baixo dele.
Em termos simples, o que esse estudo descobriu é que, em algum momento da evolução, um ancestral comum das aves perdeu a capacidade de formar dentes, dando origem aos pássaros desdentados que vemos hoje.
Curiosamente, em um estudo de 2006, cientistas da Universidade de Manchester e da Universidade de Wisconsin conseguiram “voltar no tempo” ao conferir dentes a pintinhos! Na prática, eles superaram as mutações que impediam a formação de dentes, manipulando os genes de um pintinho para que ele pudesse realmente desenvolver dentes.
No fim das contas, isso meio que ajudou a consolidar a teoria de que a perda de dentes em pássaros ocorreu devido à inativação de certos genes ao longo da evolução.
Então, por que as aves perderam os dentes?
De um modo geral, isso tem levantado questionamentos entre pesquisadores por anos. Uma teoria popular sugere que a falta de dentes nos pássaros modernos serviu como uma adaptação para torná-los mais leves para o voo, mas essa teoria é cientificamente fraca, já que mamíferos voadores como os morcegos também têm dentes.
Uma teoria alternativa sugere que a perda de dentes estava ligada a mudanças na dieta. Possivelmente, os bicos eram simplesmente melhores para quebrar alimentos do que os dentes e, portanto, acabaram prevalecendo. No entanto, esta teoria não faz sentido quando você considera o quão bem adaptados os dentes são a vários hábitos alimentares.
Uma terceira hipótese relativamente nova foi apresentada por pesquisadores da Universidade de Bonn, na Alemanha. Eles sugeriram que a perda dos dentes reduziu o tempo de incubação dos ovos das aves e, portanto, foi favorecida durante a evolução, até porque o desenvolvimento dos dentes exigiria cerca de 60% do tempo de incubação do ovo. De fato, uma incubação mais rápida também pode ter ajudado os primeiros pássaros a fazerem ninhos abertos, em vez de enterrar seus ovos.
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Embora essa teoria pareça ser a melhor até então, pesquisadores concordam que ela não explica a desdentação em tartarugas, que ainda contam com um longo período de incubação. Dito isto, talvez nunca saberemos ao certo por que as aves perderam os dentes, mas o que podemos ter certeza é que elas nem sempre foram desdentadas.
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