Uma criança pode fazer uma cara de puro desgosto ao provar verduras pela primeira vez, mas, eventualmente, essa mesma criança pode crescer e tomar gosto pelos vegetais. De fato, mesmo depois da infância, as preferências de sabor de uma pessoa podem continuar a mudar. Dito isto, a questão é: por que nosso paladar muda com o tempo?
Bem, como você verá ao longo deste artigo, nossas preferências de sabor são moldadas por muitos fatores, incluindo nossa genética, a dieta de nossas mães durante a gravidez e nossas necessidades nutricionais na infância, mas a nossa biologia nem sempre dita quais alimentos passamos a adorar ou desprezar com o tempo.
Como percebemos os sabores dos alimentos?
Nossa percepção do sabor emerge não apenas do paladar, mas também do nosso olfato, de acordo com o Brain Facts. Dito isso, muitos outros fatores influenciam se realmente gostamos do sabor de um determinado alimento. Esses fatores incluem preferências de sabor inatas, propriedades físicas como textura ou temperatura e até nossas experiências anteriores com um determinado sabor ou sabores semelhantes.
Quando mordemos um alimento, como um pedaço de queijo, os produtos químicos da comida transbordam para a cavidade oral. Algumas dessas moléculas se conectam às células sensoriais chamadas de receptores gustativos, localizadas na língua e ao longo do céu e do fundo da boca. Essas células detectam pelo menos cinco sabores básicos: doce, salgado, amargo, azedo e umami (saboroso).
Curiosamente, até certo ponto, a comunidade de micróbios que vivem em nossas bocas (chamada de microbioma oral) também pode afetar as moléculas que são liberadas de nossos alimentos enquanto mastigamos e, portanto, quais receptores são ativados em resposta ao referido alimento.
Ao mesmo tempo, algumas pequenas moléculas transportadas pelo ar e que são liberadas do alimento são varridas para fora da cavidade oral, através da garganta e para a cavidade nasal, onde tocam os receptores de cheiro. Na prática, tudo isso é combinado e resulta no “sabor definitivo” da comida.
Então, por que nosso paladar muda com o tempo?
Segundo o LiveScience, aprender a aceitar novos sabores pode ser mais fácil na primeira infância, antes dos 3 anos. No entanto, embora a infância possa representar uma janela de oportunidade única para alargar o paladar de uma pessoa, essa “janela” não se fecha, pois todos nós podemos aprender a gostar de novos sabores, independentemente da nossa idade, embora as más lembranças de alimentos específicos possam ser difíceis de superar.
Em meio a esse processo de aprendizado contínuo, nossas preferências de sabor na idade adulta podem mudar à medida que nossos sentidos de paladar e olfato se tornam menos sensíveis com a idade, embora a sensibilidade ao sabor seja apenas um dos vários fatores que moldam as preferências alimentares dos adultos.
Vale destacar que, na juventude, as células do paladar se regeneram a cada semana, mas com o passar dos anos, esse processo de regeneração diminui drasticamente, de acordo com a NPR. Por volta da meia-idade, entre 40 e 50 anos, o número total de papilas gustativas em nossa boca começa a diminuir e os receptores gustativos restantes se tornam menos sensíveis, o que influencia diretamente em nosso paladar.
Nosso sentido do olfato também diminui com a idade, tanto por conta do próprio envelhecimento quanto em conjunto com doenças relacionadas à idade, como Parkinson e Alzheimer. Semelhante ao paladar, isso se deve a uma redução nos receptores do olfato e à diminuição da sua taxa de regeneração.
Por último, mas não menos importante, alguns remédios, como antibióticos e pílulas para pressão arterial, podem mudar o nosso paladar, sem falar que tratamentos de radiação e quimioterapia também podem prejudicar os sentidos do paladar e do olfato. A fumaça do cigarro e os poluentes químicos também prejudicam os sistemas gustativos e olfativos.
Uma palavra final
Pouca gente sabe, mas a partir do momento em que os sentidos de paladar e olfato se desenvolvem no útero, os fetos começam a aprender a gostar de alimentos diferentes. Alimentos consumidos durante a gravidez “dão sabor” ao líquido amniótico, expondo assim o feto a novos sabores e transmitindo informações sobre quais sabores são seguros para consumir, de acordo com um estudo de 2019 publicado no The American Journal of Clinical Nutrition.
Após o nascimento, as moléculas de sabor também podem passar pelo leite materno e ajudar a definir a impressão que a criança tem desses sabores. Por exemplo, em um estudo publicado na revista Pediatrics, os bebês das mães que bebiam suco de cenoura durante a gravidez comiam mais alimentos com sabor de cenoura e pareciam gostar do sabor mais do que os bebês que não tinham sido previamente expostos a isso no útero.
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No fim das contas, essas primeiras experiências estabelecem a base de nossas preferências de sabor e, por meio da exposição repetida a novos alimentos, nosso paladar acaba variando com o passar do tempo.
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