A década de 1920 promoveu inovações brilhantes como a penicilina e os semáforos, mas também deu origem a uma série de projetos de engenharia demasiadamente ambiciosos. Talvez o maior e mais estranho desses projetos tenha sido o Atlantropa, um plano que envolvia a produção de eletricidade suficiente para abastecer metade da Europa e a drenagem do Mediterrâneo para dar lugar a um assentamento humano em um novo supercontinente euro-africano.
Embora pareça algo extraído de um livro de ficção científica, esse plano realmente existiu e várias pessoas consideraram a ideia até a década de 1950. Na época, muitos cientistas, filósofos e engenheiros acreditavam que poderiam resolver os problemas da sociedade europeia através da execução de grandes projetos. Entre esses profissionais estava o arquiteto Herman Sörgel, o idealizador do supercontinente euro-africano.
Herman Sörgel e a concepção do projeto Atlantropa
Em 1927, quando tinha 42 anos, Sörgel desenvolveu seu plano para Atlantropa, originalmente denominado Panropa. Seu projeto tinha como base a construção de uma rede de barragens no Estreito de Gibraltar, cortando o nível da água no Mediterrâneo.
Segundo o plano de Sörgel, barragens também seriam colocadas no Estreito da Sicília, ligando a Itália à Tunísia. Outras barragens através dos Dardanelos na Turquia conectariam a Grécia à Ásia. Juntas, essas barragens também forneceriam pontes ligando a Europa e a África a uma rede rodoviária e ferroviária gigantesca, unindo os dois continentes.
Com mais de 660 mil km² de terras e represas produzindo energia suficiente para mais de 250 milhões de pessoas todos os dias, Sörgel acreditava que a Europa vivenciaria uma nova era de desenvolvimento com eletricidade abundante e suprimentos quase infinitos. Além disso, na visão de Sörgel, o novo supercontinente seria a única maneira de impedir conflitos após a Primeira Guerra Mundial.
A tentativa de tirar o projeto do papel
A coisa mais estranha envolvendo o curioso plano de Sörgel de esvaziar o Mediterrâneo não é necessariamente sua grandiosidade, mas o fato de tal coisa realmente ter sido levada a sério.
Sörgel chegou a publicar um livro sobre o assunto em 1929, intitulado Lowering the Mediterranean, Irrigating the Sahara: The Panropa Project, atraindo a atenção de muitos para a sua “solução universal”. Ele também deu origem ao Instituto Atlantropa através da ajuda de simpatizantes, financiadores e colegas arquitetos e engenheiros.
Por vários anos, o plano recebeu muito destaque em jornais e revistas, mas apesar de suas perspectivas futurísticas, Herman Sörgel tinha uma visão antiquada com relação a temas como nacionalidade e raça.
Ao contrário de seus contemporâneos nazistas, ele acreditava que a principal ameaça à Alemanha não eram os judeus, mas os asiáticos. Na sua opinião, o mundo deveria ser dividido em três blocos: Américas, Ásia e Atlantropa, sendo que seu projeto teria o potencial necessário para se tornar o bloco mais desenvolvido.
Os sérios problemas que envolviam Atlantropa
Em meio a todos os supostos benefícios de seu projeto, o que Sörgel não mencionava era que seu plano traria sérios problemas para muitas sociedades.
Com as barragens instaladas e as pontes construídas, regiões e culturas inteiras (algumas dependentes do mar há séculos) ficariam sem acesso ao litoral. Em outras palavras, redirecionar as águas faria com que muitas pessoas perdessem territórios e fontes hídricas.
Desse modo, na Atlantropa de Sörgel, os europeus brancos naturalmente governariam como a raça dominante, enquanto que os africanos negros seriam usados unicamente como uma fonte de trabalho barata e segregada.
Sörgel chegou a levar sua ideia aos nazistas, confiante de que eles o apoiariam. No entanto, seu plano parecia “pacífico demais” se comparado ao que os nazistas tinham em mente. Além disso, sua ideia de voltar as atenções para a África não se alinhava ao objetivo que Hitler tinha em mente na época, que era acabar com a União Soviética.
O fim definitivo do projeto
Depois que a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, seu projeto até conseguiu atrair o interesse de certos políticos, mas mesmo após a queda dos nazistas, Sörgel se recusava a retirar os elementos racistas de suas ideias.
Ainda assim, o fator que realmente selou o fim de Atlantropa foi o desenvolvimento da energia nuclear. Graças aos reatores nucleares, a Europa passou a ter acesso a enormes fontes de energia sem a necessidade de construir uma monstruosa rede de barragens. Consequentemente, o sonho utópico de Sörgel passou a ser completamente ignorado.
Na noite de 4 de dezembro de 1952, Sörgel andava de bicicleta com destino à Universidade de Munique para uma palestra, quando um motorista desconhecido o atropelou fatalmente.
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Quanto ao seu plano, embora tenha fracassado, ele permanece sendo inusitado demais para ser completamente esquecido.
O projeto Atlantropa foi um plano bem bizarro, não? Se você gostou desse post, não se esqueça de compartilhá-lo!