Se você já visitou um laboratório ou museu e passou algum tempo admirando um recipiente cujo interior era preenchido por uma minúscula criatura falecida flutuando em uma solução aquosa, deve conhecer muito bem o poder de preservação do álcool. O nome formal dessa técnica é “preservação de fluidos” e os cientistas contam com ela desde 1600 para preservar amostras por centenas de anos.
Mas, afinal de contas, como isso realmente funciona? Por que o álcool é tão utilizado para preservar coisas?
Álcool é usado para preservar coisas porque combate microrganismos
Basicamente, o álcool é tóxico para os microrganismos que costumam causar a decomposição. Um vinho, por exemplo, é feito à medida que o fermento consome o açúcar das uvas e, em seguida, excreta o álcool. Entretanto, a levedura excreta tanto álcool que a concentração se torna tóxica ao ponto de matar a própria levedura.
Na prática, um teor de álcool de cerca de 14% já é suficiente para retardar o crescimento de bactérias por anos em vinhos de boa procedência. Por outro lado, é importante deixar claro que preservar outros materiais orgânicos (como DNA, tecidos ou até mesmo animais inteiros) requer uma concentração maior de álcool.
De acordo com o Live Science, para o armazenamento de materiais orgânicos por um longo prazo, uma concentração de 70% costuma ser o valor indicado. Nesse caso, há água suficiente na solução para que os tecidos permaneçam hidratados e mantenham sua forma, ao mesmo tempo em que também há álcool suficiente para prevenir o crescimento de fungos e bactérias.
O álcool em concentrações ainda mais altas, como 95%, funciona como um desidratante, o que significa que ele pode remover e substituir a água no tecido orgânico inteiro por álcool. Nesse caso, a falta de água causa alterações nas proteínas sensíveis à água, causando desnaturação no tecido.
Nem sempre é fácil definir o teor de álcool correto para preservar amostras
Embora aparente ser um processo relativamente simples, pode ser complicado decidir qual a porcentagem correta de álcool que deve ser utilizada. Usar muito ou pouco pode afetar a forma e flexibilidade da amostra, ou até mesmo diminuir sua capacidade de preservar a amostra na solução.
De um modo geral, a regra básica é que altas concentrações de álcool usadas para desidratar uma amostra irão preservá-la por mais tempo, mas esse processo também poderá deixar a amostra enrugada (devido à perda de água) e quebradiça (devido às proteínas endurecidas).
Todo esse processo de deformação da amostra sob grandes concentrações de álcool pode ser aceitável em algumas situações, mas é algo que deve ser evitado a qualquer custo em outros casos. No fim das contas, tudo depende do que você está tentando preservar.
Uma palavra final
Se um organismo tiver água suficiente em seus tecidos, ele pode diluir o álcool. Se isso acontecer, a concentração de álcool pode não ser suficiente para matar microrganismos ocultos que podem estar alojados mais profundamente na amostra, especialmente quando se trata de algum lugar como o intestino de um espécime de animal inteiro.
Em alguns casos, todas essas “bactérias perdidas” podem decompor a amostra. É por isso que é importante trocar o álcool cerca de 24 horas após a decapagem da criatura, pois isso aumenta a concentração da solução.
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Com tudo isso em mente, fica mais fácil de entender que, quando se trata de usar álcool como conservante, torna-se necessário encontrar um ponto ideal de concentração. Na prática, essa concentração deve inibir o crescimento de microrganismos, mas não deve destruir a estrutura celular do que está sendo preservado.
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