Não há evidência mais forte do poder da palavra escrita do que o fato de que muitos livros já foram banidos ao longo da história. Normas culturais, política, crenças pessoais e outros fatores podem conspirar para considerar um livro muito incendiário para circular livremente. Dito isto, a pergunta que fica é: qual foi o primeiro livro proibido da história?
Como costuma acontecer quando você olha para a história da humanidade, há mais de uma resposta possível. No entanto, há um caso em particular que se destaca e que teve perseguidores um tanto previsíveis: os puritanos.
“The New English Canaan”: o primeiro livro proibido da história
De acordo com o Mental FLoss, em meados da década de 1630, o colonizador, advogado e escritor Thomas Morton lançou uma obra literária que logo abriria espaço para polêmicas. Seu texto, denominado “The New English Canaan”, denunciava severamente os costumes puritanos, o que o levou a ser o primeiro livro conhecido a ser proibido. Na época, o livro foi acusado de “atacar os bons costumes” e “desafiar as autoridades vigentes”.
Thomas Morton nasceu em Devon, na Inglaterra, em 1579, vindo de uma família anglicana conservadora e pertencente à nobreza. Durante boa parte de sua vida, o escritor se dedicou ao estudo das colônias europeias e, em especial, ao estilo atmosférico “Old English”, considerado por muitos integrantes do puritanismo como algo imoral e dedicado ao paganismo.
Consequentemente, o nome de Morton passou a ser conhecido entre os puritanos (membros de um movimento de reforma religiosa baseado na rigidez de princípios) como um homem relacionado aos costumes proibidos do velho mundo, incluindo inclinações à libertinagem e à ilegalidade.
Como o livro que viria a ser proibido irritou os puritanos
Antes mesmo de escrever seu livro “polêmico”, Morton já dizia que os nativos americanos possuíam uma cultura muito mais “civilizada e humanitária” que a dos ingleses, retratados por ele como “vizinhos europeus intolerantes”.
Os puritanos acreditavam que as palavras de Morton exaltavam uma formal liberal do cristianismo que, segundo eles, envolvia relações sexuais imorais com mulheres nativas e até mesmo orgias repletas de bebida em homenagem a divindades como Baco e Afrodite.
Eventualmente, Morton decidiu se estabelecer de vez como um inimigo do puritanismo ao lançar uma das obras mais controversas para o dogma. Em 1637, a chegada do livro “New English Canaan” foi vista como uma das maiores ofensas aos grupos religiosos ingleses, trazendo inspirações controversas e abrangendo referências eróticas repletas de paganismo para os antigos deuses Netuno e Tritão.
O fim de Morton
Antes mesmo da publicação do tal “The New English Canaan”, Morton já havia sido preso e exilado na ilha deserta de Shoals, onde foi levado pela polícia de Plymouth para morrer de fome.
Anos mais tarde, após ser ajudado por nativos e resistir às condições adversas, ele retornou para o continente e decidiu se vingar de seus inimigos declarados ao lançar um livro onde denunciava o puritanismo e sua política de cerco de terras. Imediatamente, o texto foi banido da Nova Inglaterra, região no nordeste dos Estados Unidos.
Leia Também: Os canhotos são mais inteligentes?
Leia Também: Por que a casca dos abacaxis é áspera?
Após retornar para sua colônia com o fim da Guerra Civil Inglesa (1642-1651), Morton ainda foi acusado de ser um “agitador monarquista”. Entretanto, sem evidências concretas sobre seus crimes, o colonizador acabou indo trabalhar em plantações no estado americano do Maine, onde morreu em 1647 aos 71 anos.
Uma trajetória bastante curiosa, não é mesmo? Se você gostou deste post, não se esqueça de compartilhá-lo! 😉