Algumas pessoas podem até ser orgulhosas demais para admitir, mas a verdade é que há muita gente por aí que gosta do cheiro da gasolina. Se você é uma dessas pessoas, saiba que não há nada de errado com suas peculiaridades olfativas. De fato, você não está sozinho!
É óbvio que, para cada pessoa que acha o cheiro da gasolina agradável, provavelmente há muitos que o consideram extremamente nauseante. Ainda assim, há uma explicação científica perfeitamente razoável por trás desse desejo aparentemente estranho de apreciar o forte cheiro da gasolina.
O ingrediente mágico por trás do cheiro da gasolina
Para entender a psique de um fanático pelo cheiro da gasolina, precisamos analisar primeiramente a própria fonte. A gasolina é um coquetel químico composto por muitos ingredientes, incluindo descongelantes, lubrificantes, agentes antiferrugem e centenas de compostos químicos conhecidos como hidrocarbonetos.
Na composição básica desse tipo de combustível, há butano, pentano, isopentano e os chamados compostos BTEX: benzeno, etilbenzeno, tolueno e xileno. De todos esses compostos, o benzeno é o responsável pelo cheiro característico da gasolina. O benzeno é adicionado à gasolina para aumentar os níveis de octanagem, o que melhora o desempenho do motor e a eficiência do combustível.
Como explica a Discover Magazine, o benzeno ostenta um cheiro ao qual a maioria dos narizes é particularmente sensível, sendo tão pungente que o nariz humano pode detectá-lo se houver apenas 1 parte por milhão no ar que respiramos. Além disso, ele também evapora rapidamente, de modo que você pode colocar um prato de benzeno no meio de uma sala e sentir o cheiro instantaneamente.
Curiosamente, não é tão estranho gostar do cheiro de benzeno. Ao longo dos anos 1800 e início de 1900, o benzeno chegou a ser adicionado a loções pós-barba e duchas para dar a esses produtos um “aroma especial”. Entretanto, esses usos não duraram muito e por um bom motivo: o benzeno é um carcinógeno conhecido, sendo muito perigoso quando inalado em altas concentrações ou exposição a longo prazo. Ou seja, embora você possa gostar do cheiro, você definitivamente deve evitá-lo.
Mesmo com o que foi explicado, isso ainda não especifica a razão pela qual as pessoas podem gostar de um produto químico tão perigoso e odorífero. Embora a ciência não tenha chegado a uma conclusão definitiva sobre esse tópico, existem duas teorias principais em jogo, como veremos nos tópicos seguintes.
O cheiro da gasolina pode desencadear memórias afetuosas
Nosso nariz pode evocar memórias poderosas e vívidas se sentir um cheiro familiar. Sendo assim, o cheiro de um peru assado, por exemplo, pode transportar você ao período em que passava o feriado de Natal na casa da vovó. Essa poderosa conexão entre aroma e memória às vezes é chamada de fenômeno Proust, uma referência ao autor francês Marcel Proust, que descreveu eloquentemente uma potente memória da infância evocada pelo cheiro de um biscoito mergulhado no chá.
O olfato é o único sentido que não passa pelo tálamo antes de chegar ao prosencéfalo. O tálamo funciona como uma espécie de “central telefônica” que conecta entradas sensoriais de nossos olhos, ouvidos, língua e toque às partes certas do cérebro para que possamos registrá-las e entendê-las. No entanto, o cheiro contorna totalmente essa central telefônica, em favor de uma “linha direta”.
Além disso, o feixe de nervos que detecta as moléculas olfativas, o bulbo olfativo, tem uma alta densidade de conexões próximas à amígdala e ao hipocampo, envolvidas na resposta emocional e na formação da memória, respectivamente. É por isso que os cheiros fazem nossos cérebros formar memórias fortes, emocionalmente salientes e em um nível subconsciente.
De volta à nossa afinidade com o odor da gasolina, a questão é que podemos formar uma memória poderosa e agradável ligada ao cheiro da gasolina, ou, mais especificamente, do benzeno. Talvez seu cérebro tenha ligado o cheiro da gasolina com memórias felizes de infância de viagens de verão, passeios de bicicleta na beira de uma estrada rural quando criança ou com o passar do tempo na garagem enquanto seu pai trabalhava no carro. Quando você sente esse aroma de benzeno, pode desencadear uma sensação acolhedora e nostálgica ligada a uma memória saliente.
Odor do benzeno também pode ativar a via mesolímbica
Outra teoria se concentra mais no efeito físico que o benzeno tem nos receptores nervosos que detectam o cheiro. O benzeno e outros hidrocarbonetos, quando inalados, têm um efeito supressor sobre o sistema nervoso, o que resulta em uma sensação temporária de euforia. Produz uma sensação prazerosa que não é diferente do álcool ou de uma série de outras drogas.
Isso ocorre porque o processo biológico de entorpecer seus nervos ativa a via mesolímbica, também conhecida como via de recompensa do cérebro. Dessa forma, sempre que seus nervos olfativos recebem aquela dose de benzeno, o sistema mesolímbico fornece uma agradável dose de dopamina. É essencialmente o seu cérebro lhe dizendo: “Isso é bom! Quero mais disso!”
De um modo geral, é possível aplicar essas duas teorias para explicar por que somos atraídas pelo cheiro de coisas que temos vergonha de admitir que amamos. Nesses casos, podemos ter anexado uma memória forte e prazerosa ao perfume, ou esses cheiros desencadeiam mecanicamente uma dose satisfatória de dopamina.
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Contudo, tenha em mente que essas são apenas duas teorias para explicar por que algumas pessoas acham o cheiro da gasolina agradável. Infelizmente, não há uma abundância de pesquisas sobre essa questão, de modo que, embora convincentes, tais teorias não são necessariamente conclusivas. De fato, os cientistas ainda estão aprendendo coisas novas sobre o olfato humano e, sem dúvida, descobrirão novos mistérios para resolver no futuro.
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