Não há dúvidas de que a Grande Esfinge de Gizé é um dos símbolos mais marcantes do Egito Antigo, uma das civilizações mais emblemáticas da história. Curiosamente, assim como acontece com alguns outros monumentos daquela época, ela tem um detalhe marcante: seu nariz notoriamente quebrado.
Durante muito tempo, acreditava-se que isso era o resultado do inevitável desgaste natural da obra, uma vez que as partes mais proeminentes seriam as primeiras a sofrer com a ação do tempo. No entanto, uma pergunta pôs essa tese em dúvida: como essa poderia ser a resposta se diversas estátuas com representação em baixo-relevo também tiveram o nariz destruído?
Ao longo deste artigo, você vai descobrir que a resposta por trás disso pode ser muito mais curiosa do que parece.
A teoria mais infundada sobre o assunto
Por anos, foi levantada a hipótese de que a destruição dos narizes das esculturas egípcias havia sido feita principalmente por colonialistas europeus que almejavam apagar as raízes africanas dos antigos egípcios. De fato, até Napoleão foi apontado como o grande culpado. Entretanto, essa é uma teoria já refutada pelos historiadores, que afirmam não haver fundamento para o ato.
Entre um dos principais motivos para colocar essa tese como infundada está o fato de que os narizes não seriam os únicos elementos físicos dessas origens. Então, eles não seriam os únicos elementos destruídos se esse fosse o caso.
Dito isto, para a grande maioria dos especialistas, a resposta mais confiável para o tema seria uma só: a iconoclastia, ou seja, a rejeição e destruição de imagens religiosas.
Iconoclastia é a possível resposta para as estátuas egípcias que têm nariz quebrado
De certo modo, essa é uma teoria bastante forte quando levamos em consideração que as estátuas eram o ponto de conexão entre o divino e o terreno para os antigos egípcios, de modo que, para eles, esses monumentos carregavam até mesmo poderes sobrenaturais.
Segundo a BBC, naquela época, acreditava-se que os deuses egípcios poderiam assumir o corpo das estátuas por meio de rituais. Ao mesmo tempo, havia a crença de que esses rituais poderiam ser revertidos através de danos deliberados. Dessa forma, a destruição podia ser vista como uma medida frequente para reverter esse processo ou evitar que algo a mais acontecesse.
No passado, o ato de depredar monumentos era comumente atribuído a sentimentos de vingança e ressentimento. Na prática, isso poderia ser feito por várias pessoas, desde ladrões de túmulos com medo da vingança do defunto ou por governantes rigorosos que desejavam reescrever os passos de uma determinada cultura.
Um exemplo disso aconteceu quando Akhenaton, que governou entre 1353 e 1336 a.C., quis que a sociedade egípcia adorasse especificamente o deus solar Aton. Para isso, ele teria que enfrentar a ira do deus Amon, sendo que sua arma de destruição seria acabar com todos os monumentos que representassem sua figura. Em outras palavras, as mutilações tinham como objetivo restringir o poder da figura representada na estátua ou em baixo-relevo na parede.
Tá, mas por que especificamente o nariz?
Em meio a todo esse período de destruição de imagens e monumentos, se a pessoa quisesse impedir que os humanos pudessem realizar oferendas para uma divindade, era comum que as estátuas tivessem o braço esquerdo removido. Por outro lado, orelhas poderiam ser retiradas por aqueles que não desejavam ser “ouvidos” pelos deuses.
Um exemplo ainda mais curioso é que, caso o objetivo fosse acabar com qualquer método de comunicação entre os dois mundos, a melhor solução seria separar a cabeça do corpo de uma estátua. Mas, afinal de contas, por que o nariz era visto como um ponto crucial?
Bem, a provável resposta está ligada ao fato de que essa parte do corpo representava a fonte de fôlego, ou seja, o fluxo da vida em sua forma mais pura. Portanto, seria razoável para os antigos egípcios pensar que, se o objetivo fosse matar o espírito interior de um determinado monumento, seria possível sufocá-lo através da remoção do nariz com um simples golpe de martelo e cinzel.
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No fim das contas, tudo isso ajuda a mostrar um enorme culto às imagens no Egito Antigo e como essas mutilações apresentam um panorama bastante interessante sobre as mudanças culturais, religiosas e políticas dessa época tão marcante da história.
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