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Atualmente, estamos tão acostumados a adquirir medicamentos em embalagens coloridas nas farmácias que é fácil esquecer como eles surgiram. Embora muitas substâncias possam ser sintetizadas em laboratórios, grande parte dos princípios ativos tem origem na fauna e flora.
A natureza revela-se uma fonte surpreendente de cura e, em muitos casos, potentes remédios são encontrados em lugares inusitados, como no veneno de animais. Algumas dessas substâncias letais, quando manipuladas adequadamente, transformam-se em medicamentos cruciais para a saúde humana. Vejamos alguns exemplos notáveis:
- Ozempic
Ozempic é um medicamento utilizado no tratamento do diabetes tipo 2, e também tem sido empregado para perda de peso. Seu princípio ativo é a semiglutida, uma substância derivada de um hormônio encontrado no monstro-de-gila, um réptil venenoso. Essa substância é similar ao hormônio GLP-1, que os seres humanos liberam após a ingestão de alimentos — sendo responsável pela sensação de saciedade e por regular os níveis de açúcar no sangue.
- Captopril
O veneno da jararaca é temido por sua letalidade, mas contém uma enzima valiosa. Na década de 1960, cientistas estudavam os efeitos do veneno da jararaca na pressão sanguínea. Eles conseguiram isolar um peptídeo associado à redução da pressão arterial. Com o tempo, essa substância foi reproduzida em laboratório, originando o medicamento Captopril, que foi a base para uma nova geração de fármacos para controle da pressão alta e outras condições cardiovasculares.
- Viprinex
Outro medicamento proveniente do veneno de cobra é o Viprinex. Neste caso, a droga é feita a partir da enzima ancrodo, uma substância presente no veneno e semelhante à trombina. O ancrodo é encontrado nas cobras Calloselasma, uma espécie de víboras comuns no Sudeste Asiático. Esse medicamento é anticoagulante, utilizado para dissolver coágulos e auxiliar na prevenção de tromboses, infartos e acidentes vasculares.
- Desirudina e Bivalirudina
Falando em anticoagulantes, a Desirudina e Bivalirudina são medicamentos desta categoria que foram extraídos e reproduzidos a partir das sanguessugas — utilizadas em diferentes formas de medicina há séculos. Quando uma sanguessuga morde uma presa, ela libera a hirudina, uma substância natural que impede que o sangue da vítima coagule, permitindo a alimentação. A partir desta substância, surgiram alguns medicamentos comumente utilizados para tratar doenças em pacientes com risco de coagulação.
- Prialt
Prialt é o nome comercial do Ziconotide, um medicamento utilizado para o tratamento de dores crônicas em adultos que necessitam de analgésicos administrados por injeção intratecal (injeção no espaço que envolve a medula espinhal e o cérebro). Esses casos são raros, portanto, o medicamento não é tão conhecido. Sua matéria-prima provém de uma toxina mortal presente no Conus magus, um tipo de caracol. Embora os estudos para seu desenvolvimento tenham começado nos anos 1960, a droga só foi comercializada nos Estados Unidos e na Europa em 2004. Ela pode ser até mil vezes mais potente do que a morfina, por isso só é usada em casos extremos onde outros medicamentos não proporcionam alívio da dor. O Ziconotide tem diversos efeitos colaterais.
- Botox
Botox é uma marca comercial da toxina botulínica, uma neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Nos anos 1970, a substância purificada começou a ser utilizada nos Estados Unidos para tratar o estrabismo. Suas propriedades de bloquear os neurotransmissores, que conduzem os impulsos elétricos do cérebro para os músculos, eram úteis para impedir movimentos indesejados nos olhos. No entanto, um efeito colateral dos tratamentos foi a redução das rugas ao redor dos olhos, o que logo passou a ser estudado e se tornou a principal aplicação do medicamento.
