Em um contexto em que o mundo se torna progressivamente mais ruidoso, certos primatas têm ultrapassado limites para se destacarem. De acordo com um novo estudo publicado na revista Ethology Ecology & Evolution, os micos sauim-de-coleira, nativos do Brasil, têm recorrido ao uso de marcas de cheiro para se comunicarem com maior frequência, uma vez que a poluição sonora causada pelos seres humanos interfere na comunicação vocal dessa espécie.
O sauim-de-coleira é um macaco com 27 a 30 cm de comprimento, possuindo corpos peludos e rostos desprovidos de pelos. Atualmente, a espécie está listada como “criticamente ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Entretanto, como esses micos estão superando os desafios impostos pela poluição sonora para garantir sua sobrevivência?
Ambiente Poluído
Macacos, como o sauim-de-coleira, habitam uma região geográfica bastante restrita no Brasil. A maior parte de seu território agora está situada em Manaus, a capital do estado do Amazonas, que possui uma população de cerca de 2,6 milhões de habitantes. A expansão da cidade tem confinado grupos individuais de macacos a pequenas áreas cercadas por espaços urbanos ruidosos.
No entanto, a comunicação desempenha um papel crucial para a sobrevivência desses primatas, o que significa que a poluição sonora na região tem prejudicado seus chamados vocais. Portanto, essa espécie desenvolveu a habilidade de produzir diversas marcas de cheiro como meio de comunicação entre seus pares.
Essas marcações olfativas servem a diversas funções, incluindo a transmissão de informações sobre território e reprodução. Como isso ocorre? O sauim-de-coleira possui glândulas especiais acima dos órgãos genitais e próximas ao estômago que emitem esses aromas. Vale ressaltar que esse comportamento não é exclusivo deles: tanto felinos domésticos quanto selvagens, como cães, pandas-vermelhos e outros mamíferos, podem utilizar sprays odoríferos para demarcar território.
Adaptação à Nova Realidade
Em um estudo recente conduzido pela Universidade Federal do Amazonas em colaboração com a Universidade Anglia Ruskin, da Inglaterra, pesquisadores examinaram o comportamento de nove grupos distintos de sauim-de-coleira selvagens. Acompanhando cada grupo por um período de 10 dias através de rastreamento por rádio, os pesquisadores identificaram o tráfego rodoviário como a fonte mais comum de ruído antropogênico.
A poluição sonora também era registrada durante ações de visitantes do parque, passagem de aeronaves e atividades militares. Os cientistas observaram que a frequência de marcação olfativa aumentava de forma direta conforme os níveis de decibéis percebidos pelos macacos na região. Isso indica que esse comportamento está sendo mais frequentemente utilizado à medida que a comunicação vocal dos micos é prejudicada pelo ruído humano.
Jacob Dunn, coautor do estudo e pesquisador da Universidade Anglia Ruskin, ressalta que os humanos têm adicionado uma série de estímulos sonoros à paisagem com a qual os animais evoluíram para lidar, e que o ruído causado pela atividade humana está cada vez mais sobrepondo os sons naturais. Para Dunn, o aumento na utilização de marcação de cheiro pelos sauim-de-coleira provavelmente representa uma resposta flexível a essa mudança ambiental, demonstrando assim como essa espécie tem se adaptado para garantir sua sobrevivência.