Imagine acordar um dia e descobrir que você está inexplicavelmente imune a qualquer tipo de dor física. Você não pode experimentar a sensação de dor e se sente como se agora fosse invencível. Incrível, não? Mas será que é realmente possível viver sem sentir dor? E será que a incapacidade de sentir dor pode tornar a pessoa uma espécie de super-herói?
Acontece que algumas pessoas realmente possuem uma condição genética que inibe a expressão da dor, mais formalmente conhecida como “insensibilidade congênita à dor”. No entanto, antes de abordarmos os detalhes dessa condição, precisamos entender primeiramente qual é a real importância da dor em nossas vidas.
Por que sentir dor é importante?
Sentir dor é uma experiência dolorosa, obviamente. As pessoas geralmente fazem o possível para evitar a dor, seja tomando um analgésico ou até mesmo sacrificando um membro em situações muito graves. Dito isto, podemos pensar que qualquer pessoa se sentiria abençoada por ficar completamente imune a esse tipo de experiência, certo?
Bem, a verdade é que a dor é parte integrante da nossa percepção sensorial e um mecanismo essencial para a sobrevivência. Basicamente, a sensação de dor serve como um sinal de alerta sobre danos aos nossos tecidos. A dor é detectada por um sistema de sensores químicos e mecânicos chamados nociceptores. Então, redes de neurônios transmitem essas mensagens ao cérebro e à medula espinhal, provocando respostas apropriadas.
Pense da seguinte forma: se você bater a porta com os dedos, um processo vital vai estimular a reação de afastar a mão e procurar ajuda. Agora, imagine ser ferido, mas não ser capaz de detectar o problema simplesmente porque você não consegue perceber a dor… Pois é, seria mais difícil de detectar o nível de gravidade da coisa toda, não é mesmo?
Por mais maravilhosa que possa parecer toda essa ideia de não sentir dor, uma condição desse tipo indica um déficit na percepção de situações perigosas. Na prática, o nosso impulso de evitar a sensação de dor nos mantém a salvo de todos os terrores do mundo, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Então, por que algumas pessoas não conseguem sentir dor?
A insensibilidade congênita à dor (também conhecida como “analgesia congênita”) é uma condição rara que se traduz na incapacidade de perceber a dor física. É considerada uma forma de “neuropatia periférica”, ou seja, um distúrbio no funcionamento de alguma parte do Sistema Nervoso Periférico.
A rede de músculos e células conectadas por meio desse sistema ao cérebro e à medula espinhal conduzem impulsos de sensações, como tato, paladar e olfato. Desse modo, uma disfunção em seus neurônios devido à mielina afetada negativamente (a camada protetora que permite que os impulsos elétricos sejam transmitidos ao longo das células nervosas) pode levar a uma longa lista de disfunções associadas.
Pessoas com esse distúrbio ainda podem perceber diferenças extremas de temperatura. Eles podem, por exemplo, identificar que um chá está quente. No entanto, se elas forem feridas pelo mesmo chá, como ter a língua queimada pela alta temperatura do líquido, elas ainda não sentirão a dor resultante disso.
Estudos mais recentes concluíram que esse problema é genético, geralmente atingindo homens e mulheres na mesma proporção. Devido à incapacidade de perceber a dor de uma lesão, os indivíduos que sofrem com esse problema podem ter um conjunto de hematomas não detectados. Eles também podem ter muitos ferimentos autoinfligidos, especialmente nos lábios e na parte interna das bochechas, devido a mordidas excessivas.
Como essa condição pode ser tratada?
Uma análise genética pode indicar mudanças mais evidentes em genes, proteínas e cromossomos; portanto, ela pode ser empregada para confirmar a síndrome ou determinar as chances de desenvolvê-la. Ainda assim, não existe uma técnica de tratamento para a síndrome em si.
Após o diagnóstico, os sintomas do indivíduo podem ser usados para desenvolver planos de manejo voltados para questões específicas. Por exemplo, uma combinação de técnicas de gerenciamento e prevenção deve ser aplicada para aumentar sua expectativa de vida. Sendo assim, a prevenção gira em torno de tomar as medidas necessárias para evitar ferimentos ou manter uma supervisão diligente para detectá-los, caso ocorram.
Leia Também: Por que sentimos cansaço em viagens longas?
Leia Também: Quem inventou a máscara de gás?
Dito isto, da próxima vez que você bater com o dedinho do pé na porta e começar a xingar o mundo cruel e tudo que há nele, pare um momento para ser grato aos benefícios da dor, afinal, ela ajuda a avisar que há algo de errado acontecendo com o seu corpo.
Muito interessante, não é mesmo? Se você gostou deste post, não se esqueça de compartilhá-lo! 😉