Apesar dos avanços significativos na conquista de direitos para as mulheres, como o direito ao voto, educação, trabalho e controle sobre a própria reprodução, a desigualdade de gênero ainda persiste. Em diversos contextos, observamos que as mulheres não desfrutam de uma posição confortável para se expressar.
De acordo com um estudo recente, essa disparidade é evidente em situações que demandam uma maior participação, como falar em público em palestras, fazer perguntas em seminários ou expressar discordância. Analisando interações em seminários universitários, foram identificadas nuances nesse padrão.
Publicado na Revista Plos ONE em 2018, o estudo revelou que, mesmo em ambientes com uma proporção equilibrada de homens e mulheres na plateia, as mulheres tinham uma menor probabilidade de fazer perguntas. Mas o que estaria limitando essa participação feminina?
Foram analisados 247 seminários realizados em 10 países, juntamente com respostas coletadas sobre a participação e as perguntas feitas pelo público. Ficou evidente que homens e mulheres compartilham motivos semelhantes para fazer perguntas em muitos casos. Por exemplo, 92% dos homens e 93% das mulheres tinham dúvidas motivadas pelo interesse no tema; 67% dos homens e 64% das mulheres buscavam esclarecimento.
No entanto, ao considerar perguntas relacionadas à identificação de erros, apenas 33% dos homens e 16% das mulheres as faziam. Isso é um sinal de alerta. O estudo também desenvolveu um modelo que estimou a participação feminina em diferentes cenários. Por exemplo, a probabilidade de uma mulher fazer uma pergunta em um seminário foi prevista em 33%. Se um homem fosse o primeiro a perguntar, essa probabilidade caía para 27%.
Outro achado importante foi que a duração da sessão de perguntas impactava diretamente na probabilidade de uma mulher fazer uma pergunta. Além disso, os homens tinham 2,5 vezes mais chances de fazer uma pergunta em comparação com as mulheres.
Internamente, a preocupação de ter entendido algo errado foi um obstáculo comum para as mulheres na hora de interagir em público. Para os homens, a falta de tempo foi a principal razão para não fazer perguntas.
Fatores como a ausência de modelos femininos em posições de destaque, a menor visibilidade e a falta de incentivos também afetam a participação das mulheres. O estudo destaca a importância de promover maior visibilidade feminina em diferentes contextos e a necessidade de mudanças na cultura organizacional para criar ambientes mais inclusivos.
Diante desse cenário, ouvir mais mulheres e adotar novas abordagens são passos cruciais para impulsionar a igualdade de gênero na esfera da expressão pública.