Recentemente, muito tem se falado sobre uma possível colonização de Marte, o que nos leva a crer que algum dia, de alguma forma, alguém morrerá no planeta vermelho. Por causa da logística potencialmente proibitiva e do alto custo de transportar os corpos de volta para casa, os cadáveres das pessoas que morrerem em solo marciano precisarão ficar por lá mesmo, o que levanta a seguinte questão: afinal, como seria a decomposição do corpo humano em Marte?
Para entender isso da melhor forma, precisamos entender primeiramente como ocorre a decomposição do corpo humano em sua forma “tradicional”.
Como funciona a decomposição do corpo humano
O nosso planeta natal é o ambiente perfeito para nós, seja vivos ou mortos. Isso porque, na Terra, nossos restos mortais eventualmente se decompõem à medida que o meio ambiente recicla o material orgânico que nos constitui. De fato, certos organismos basicamente evoluíram para explorar a biomassa de organismos mortos.
Logo no início da decomposição, o corpo esfria (algor mortis) e o sangue começa a se acumular devido à gravidade (livor mortis). Então, o rigor mortis (enrijecimento temporário dos músculos) se instala. Posteriormente, as células começam a se decompor à medida que as próprias enzimas do corpo as destroem em um processo chamado autólise. Em seguida, ocorre a putrefação, à medida que as bactérias digerem o corpo.
Dito isto, vale mencionar que, na Terra, o principal fator que afeta a decomposição é a temperatura. Basicamente, o calor promove uma maior reprodução dos microrganismos que metabolizam (comem) os tecidos humanos. Então, por mais que possamos pensar nos insetos como o principal tipo de necrófago dos tecidos moles humanos, a atividade dos insetos é dependente da temperatura.
A temperatura também se torna um fator crucial por outro motivo: a sublimação ocorre em ambientes congelados (a água congelada escapa para o gás sem passar pela forma líquida), da mesma forma que roupas molhadas ainda podem secar penduradas do lado de fora no inverno. Assim, em ambientes terrestres congelados onde a água sublima e o frio interrompe processos, a sublimação desidrata os restos mortais e cria múmias naturais.
A decomposição do corpo humano em Marte
Embora Marte possa ter se parecido mais com a Terra no passado, hoje é um planeta muito mais frio e seco que conta com uma atmosfera extremamente fina composta de 95% de dióxido de carbono e apenas 0,16% de oxigênio. Consequentemente, tudo isso acabaria promovendo uma decomposição diferente do corpo humano.
De acordo com a revista Astronomy, um cadáver em Marte, se deixado ao ar livre ou até mesmo enterrado no solo marciano, eventualmente secaria e mumificaria. Os primeiros estágios da decomposição no ambiente terrestre (algor mortis, livor mortis e rigor mortis) ainda ocorreriam, mas o restante do processo tomaria caminhos diferentes.
A autólise e a putrefação continuariam até o corpo congelar, pois como a maioria das bactérias em nosso corpo são aeróbias, isso significa que elas precisam de oxigênio para funcionar adequadamente. Em Marte, apenas as bactérias anaeróbias (que não requerem oxigênio) poderiam proliferar até o congelamento, o que significa que a putrefação seria severamente limitada.
Após o congelamento, o corpo provavelmente secaria à medida que sua umidade fosse sublimada, deixando para trás uma múmia natural e bem preservada, do tipo que poderia ter deixado os antigos egípcios com ciúmes. De fato, os tecidos dessecados provavelmente seriam muito estáveis por um período indefinido.
Uma palavra final
De certo modo, múmias marcianas excepcionalmente preservadas podem até soar como uma ideia legal, afinal, seria uma maneira relativamente fácil de lidar com os cadáveres humanos em solo marciano. No entanto, se os assentamentos humanos em Marte realmente decolarem, os cemitérios podem exigir um pouco de zoneamento e planejamento, já que os corpos neles não se decomporiam totalmente, impedindo a reutilização dos lotes.
Obviamente, enterrar ou cremar os corpos também seriam alternativas possíveis, mas tanto o sepultamento quanto a cremação têm uma desvantagem significativa: a perda de biomassa potencialmente preciosa. Basicamente, o ambiente de Marte não é capaz de explorar esses recursos de forma alguma.
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Hoje, os únicos vestígios em Marte são os de missões robóticas extintas. Porém, quando os humanos chegarem, haverá claramente muito trabalho a ser feito com relação ao planejamento do que fazer com nossos mortos.
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